Independente. Paga suas contas, dirige seu carro, comanda seu destino. Sexy. Sabe que não precisa ser exatamente bonita para possuir sensualidade, basta uma boa dose de auto-estima. Inteligente. Lê tudo o que encontra pela frente, de Bravo! a bula de remédio, sabe que cinema acontece no mundo todo e não somente em Hollywood, freqüenta casas de cultura. Mas, um dia, ele aparece sem mandar aviso. Não montava um cavalo branco e nem era tão lindo mas, mesmo assim, não deixou a menor sombra de dúvida: príncipe encantado, é você! Resolveram ficar juntos, que o príncipe também não é bobo e sabe que princesa boa não se acha em qualquer paragem. A partir de então, ela deixa de ir ao teatro para acompanhar o amorzão enquanto ele faz as contas da tabela do Brasileirão. Ela o convence de que Zé Ramalho é música boa e Blink 182 não é. Ele, chato pra comer, não gosta de nada que não seja lingüiça. Eles passam a comer massa com lingüiça, pastel de lingüiça, pizza de calabresa – logo ela, que faz yôga e adora alimentação orgânica. E ela come, hummmmm. Por que motivo, quando apaixonados, ficamos assim tão diferentes? Ué, por que é isso mesmo que queremos. E pior, gostamos. Eu fico. Não tem jeito de conciliar as duas mulheres que são, tão-somente, eu mesma. Uma é doce e a outra apimentada. Uma é afeita ao porto e a outra ao partir. Se Walt Whitman estava certo quando disse que cada um de nós é uma multidão, me obrigo a confessar que essas duas são minhas antíteses pessoais. Sou muitas outras também, mas só o amor polariza. Sou nômade, trocar de lugar é a coisa que mais gosto na vida. A menos que haja amor. Este sim, prende e transforma, como já disse Samuel Rosa: a minha casa está onde está o meu coração - ele muda; minha casa, não. Não me olhe dessa maneira, você também é assim. Não? Menina, é feio mentir. Onde é que vamos parar, sempre que estamos amando? Logo ali, no país das maravilhas. In love, queremos preguiça e guarida. Desejos legitimados por si próprios, os tais fins que justificam os meios. Cozinhamos no sábado à noite, enquanto os outros vão para a balada. Alugamos DVDs, perdemos o final do filme, e não é por causa do sono. Queremos que carreguem nossas mochilas e esperem o trem partir. Precisamos de perdão para nossas fraquezas, que agora são tantas, já que a convivência nos deixa expostos e vulneráveis. Não há maquiagem para a vida a dois. Fica evidente que somos quase fracos, quase perfeitos. Eu disse quase? A liberdade de ser solteiro nos desobriga a enfrentar nossos defeitos. Pelo menos em público, já que ninguém nos observa o tempo todo. Só mostramos o que queremos mostrar e fica combinado assim. Independente sim, e no domingo bate uma carência daquelas que dá vontade de chorar e sentir autopiedade, enquanto devoramos uma lata de Moça Fiesta sabor beijinho. Ainda assim independente, por que ninguém ficou sabendo. Se o príncipe estivesse olhando, certamente diria um bah, mas tu é chorona, hein? Ao que pergunto: rapazes, por que será?