6 de dezembro de 2007

era uma vez

Independente. Paga suas contas, dirige seu carro, comanda seu destino. Sexy. Sabe que não precisa ser exatamente bonita para possuir sensualidade, basta uma boa dose de auto-estima. Inteligente. Lê tudo o que encontra pela frente, de Bravo! a bula de remédio, sabe que cinema acontece no mundo todo e não somente em Hollywood, freqüenta casas de cultura. Mas, um dia, ele aparece sem mandar aviso. Não montava um cavalo branco e nem era tão lindo mas, mesmo assim, não deixou a menor sombra de dúvida: príncipe encantado, é você! Resolveram ficar juntos, que o príncipe também não é bobo e sabe que princesa boa não se acha em qualquer paragem. A partir de então, ela deixa de ir ao teatro para acompanhar o amorzão enquanto ele faz as contas da tabela do Brasileirão. Ela o convence de que Zé Ramalho é música boa e Blink 182 não é. Ele, chato pra comer, não gosta de nada que não seja lingüiça. Eles passam a comer massa com lingüiça, pastel de lingüiça, pizza de calabresa – logo ela, que faz yôga e adora alimentação orgânica. E ela come, hummmmm. Por que motivo, quando apaixonados, ficamos assim tão diferentes? Ué, por que é isso mesmo que queremos. E pior, gostamos. Eu fico. Não tem jeito de conciliar as duas mulheres que são, tão-somente, eu mesma. Uma é doce e a outra apimentada. Uma é afeita ao porto e a outra ao partir. Se Walt Whitman estava certo quando disse que cada um de nós é uma multidão, me obrigo a confessar que essas duas são minhas antíteses pessoais. Sou muitas outras também, mas só o amor polariza. Sou nômade, trocar de lugar é a coisa que mais gosto na vida. A menos que haja amor. Este sim, prende e transforma, como já disse Samuel Rosa: a minha casa está onde está o meu coração - ele muda; minha casa, não. Não me olhe dessa maneira, você também é assim. Não? Menina, é feio mentir. Onde é que vamos parar, sempre que estamos amando? Logo ali, no país das maravilhas. In love, queremos preguiça e guarida. Desejos legitimados por si próprios, os tais fins que justificam os meios. Cozinhamos no sábado à noite, enquanto os outros vão para a balada. Alugamos DVDs, perdemos o final do filme, e não é por causa do sono. Queremos que carreguem nossas mochilas e esperem o trem partir. Precisamos de perdão para nossas fraquezas, que agora são tantas, já que a convivência nos deixa expostos e vulneráveis. Não há maquiagem para a vida a dois. Fica evidente que somos quase fracos, quase perfeitos. Eu disse quase? A liberdade de ser solteiro nos desobriga a enfrentar nossos defeitos. Pelo menos em público, já que ninguém nos observa o tempo todo. Só mostramos o que queremos mostrar e fica combinado assim. Independente sim, e no domingo bate uma carência daquelas que dá vontade de chorar e sentir autopiedade, enquanto devoramos uma lata de Moça Fiesta sabor beijinho. Ainda assim independente, por que ninguém ficou sabendo. Se o príncipe estivesse olhando, certamente diria um bah, mas tu é chorona, hein? Ao que pergunto: rapazes, por que será?