7 de maio de 2008

gostos...

...cores e amores não se discutem (perdão pelo clichê); gosta-se e fim. Maria, que ama João, ama azul. João, que ama Maria, ama vermelho. Mas o que realmente importa é que, se eles não encrencarem a sério na hora de escolher a tinta da parede da sala, se gostam e pronto. Que pintem de roxo e sigam vendo passarinhos verdes. Sem discussão. Claro, eu sei que não é tão simples, é apenas um exemplo. Não gostou? Do exemplo ou de mim? Aí que me refiro. Detesto Woody Allen. Pronto, falei. Juro que não entendo o porquê de tanto frisson cada vez que o cara lança alguma coisa. Acho repetitivo, um saco. Mas tenho adoração, sou fã mesmo, de uma escritora que se proclama como sua fã número um, a Martha Medeiros. Uma das minhas melhores amigas adora a música dos anos 80, coisa que me provoca arrepio, seguido de certa vertigem enjoada, cada vez que escuto. Detesto um sem-número de coisas, mas não deixo de nutrir afeto sincero por pessoas que tenham apreço por essas... diferenças entre nós, digamos assim. Sua playlist é a fina flor da música popular brasileira: Zeca Baleiro, Paulinho Moska, Roberta Sá e por aí vai. Aí você conhece um cara muito legal, fica encantada e, só então, descobre que ele ama ouvir pagode. Tem até um pandeiro todo brilhoso. Ou hard core, sertanejo, punk rock – enfim, imagine algo que você não escuta de jeito nenhum. Ta bom, ta bom, concordo que não seria nada fácil, mas você deixaria de gostar só por que o cara tem mau gosto? Peço desculpas por ser a portadora da má notícia, mas, para ele e toda a tribo que o cerca, quem tem mau gosto é você. É justo que eles te segreguem só por que quem canta para você dormir é o João Gilberto, sua cafona? Gostar somente daquilo que se comporta de estrito acordo com o que desejamos - isso sim - é brega pra caramba. Vivemos em um mundo deveras maluco, você sabe. Alguém me diz: faz algum sentido sair dando tiros em ônibus só por que os ocupantes não apreciam o mesmo time de futebol que você? A Luciana Mello falou que não existe amor sem medo, e eu concordo. Agora, um amor que mutila, aleija, mata? Desculpa mas, se isso é amor, confesso que nunca amei nesta vida. Pode-se inventar desculpas esfarrapadas, dizendo que foi o outro quem provocou. Não importa. Jogos existem para extravasar nossa ancestral necessidade de dominação do mundo de forma mais saudável que a praticada no tempo dos fenícios. Xingue a torcida adversária, grite palavrões, ofenda a mãe do juiz. Empurre sua infantaria de onze rumo à conquista do planeta. Não represe, bote essa agressividade pra fora. É para isso que você vai ao estádio. Mas seja gente boa e tenha bom gosto: aceite que, se não houvesse rivais, não haveria espetáculo. É um jogo, não uma guerra. Entendeu ou quer que a tia faça um desenho? Está acontecendo, essa semana, um escândalo que custo a compreender - se alguém quiser desenhar para mim, agradeço. Esse menino, Ronaldo, foi pego com as calças na mão. Que papelão, é verdade. Acho patético ter a intimidade exposta dessa forma, mas faz parte do show business, ramo onde ele trabalha. De exposição na mídia, proibido reclamar. Só que estão fazendo um barulho enorme, saiu até na capa da Veja - veja bem. Esse foi o assunto mais importante da semana? Na opinião dos editores da tão conceituada revista, sim. Então vamos celebrar a ausência de maiores problemas, por que o fato maioral ocorrido no país é que se descobriu que o Fenômeno gosta de uma coisa que a maioria não aprecia - ou apenas não confessa. A raiz do problema é “não te aceito se você não for quem eu quero que você seja”. As pessoas são quem são. Caetano defenderia o rapaz dizendo que, de perto, ninguém é normal. Papelão mesmo é ficar se realizando ao analisar detalhes da desgraça alheia. Não faz a menor diferença em minha vida se era mulher ou se não era, se havia apenas uma pessoa ou se havia trinta. Eu não faço idéia se ele está falando a verdade, e pouco me importa o que ele faz entre quatro paredes. Interessa-me apenas o que ele faz entre quatro linhas. Eu quero é ver gol! Deixem o garoto em paz. Gosto não se discute.