5 de janeiro de 2008

feliz outro novo

Os outros esperam alguma coisa da gente. Que sejamos deste ou daquele jeito, que nossas reações sejam assim e nossas paixões, assado. Os outros têm uma opinião a nosso respeito e, com base nessa tal opinião, criam uma expectativa. Se em algum momento de nossas existências fomos engraçados, espirituosos e populares, os outros não nos pouparão de sua desilusão se então optarmos pelo ostracismo. Estaríamos partindo suas expectativas ao meio, e ninguém gosta de ser desapontado. É como se existisse um pré-acordo: não os decepcione, e farão o mesmo por você. Posso ser bem decepcionante, uma vez que é muito improvável que eu seja exatamente quem os outros esperam. Pelo menos, não durante todo o tempo. Tenho altos, baixos e lateralidades, como todo mundo. Enquanto tudo se encaminha para que eu me torne uma executiva de sucesso, é possível que eu desista de tudo e vá viver com os aborígenes na Nova Zelândia. Ou com esquimós pescadores, ou ainda com os novos yuppies em Nova York. A cada vez que conhecemos alguém, nos tornamos uma página em branco. Para esta nova pessoa, podemos nos reescrever. Ou pelo menos corrigir alguns detalhes. É assim para todo mundo: eu, você, seu chefe. Existe uma quase promessa de que seremos quem estamos apresentando. Claro que quem convive conosco diariamente se enquadra em outra categoria. Não faz parte dos outros. Quem está de fora está livre para pensar o que quiser. Caso mude de idéia, convide para entrar. A regra vale também para nós, que somos os outros dos outros. Tantas vezes imaginamos saber exatamente quem estamos conhecendo para, mais tarde, não sermos capazes de reconhecer o sujeito. Ele mudou ou mentiu? Eu que sou tantas, sei que não é possível ser sempre a mesma pessoa. Penso, logo, mudo de idéia. Mudamos com o jogo da vida - suas decepções, expectativas - e o amadurecimento que ele traz. Com as estações do ano: no verão, somos leves e matutinos. No inverno, personificamos uma antítese. E ainda somos nós. Você é uma pessoa só? Não tem contradições, dualidades? Nossa, que tédio. Perdoe a pieguice, mas aproveito ainda o clima de Ano Novo e sugiro que você seja quantos e quem quiser. Assuma os milhares que coexistem em seu corpo – a bailarina, o mecânico, a rabugenta, o libertário. A palavra de ordem dos nossos tempos deveria ser a tolerância. Para sermos capazes de praticá-la com os outros, a pratiquemos com os muitos eus que nos habitam. Tolere-os. E nem é preciso esperar pelo último dia do ano, é possível prometer, ser e mudar agora mesmo. A menos que você faça questão de esperar mais 360 dias.
Feliz outro novo para você.

Deixe seu comentário

Postar um comentário

Deixe sua opinião!