3 de dezembro de 2008

carta de despedida

Você precisa ir embora. Não, por favor, sem lágrimas. Eu também amo você, mas precisamos ter maturidade para saber quando não dá mais. Sempre soubemos que esse dia chegaria. Chegou. Sejamos adultos.
Durante esse período, fomos felizes, não fomos? Você e eu. No primeiro dia do ano, fomos assistir juntos ao nascer do sol. É verdade que peguei no sono e acordei com o sol a pino, mas o importante é que estávamos unidos. Tínhamos tudo pela frente, esperança e possibilidade. Aproveitamos cada um dos segundos a que tivemos direito, ao som das ondas do mar.
Passamos noites maravilhosas em claro. Rolamos na cama, lambuzados da alegria em termos um ao outro, em sermos donos daqueles momentos únicos. Acredite, foram únicos sim. Jamais esquecerei o que vivemos: eu vinha seguindo por um caminho que não me faria feliz, e foi ao seu lado que percebi o quanto era urgente modificar meu rumo. Você nunca me negou apoio. Pelo contrário, você foi meu propulsor, meu amante e meu ombro amigo nos raros momentos em que quase fraquejei.
Sim, concordo que estou sendo egoísta, mas você sabe que não pode vir comigo. É preciso seguir em frente – você me fez mulher, mas não foi o primeiro, e, felizmente pra mim, não será o último.
Nós dois temos muitas coisas em comum; sem dúvida que a fome de rodar o mundo é a maior delas. Decidimos que iríamos embora desse lugar juntos, munidos apenas da coragem com que, então, nosso amor nos alimentava. Fizemos planos. Foi numa manhã de março, lembra? Naquele dia fez sol, choveu forte e depois surgiu um arco-íris, que acreditamos ser um bom presságio. Cumprimos com tudo o que combinamos - preparamos-nos a contento, traçamos metas realistas e também contamos com a sorte. Embora eu tenha desejado profundamente realizar esse sonho ao seu lado, percebo agora o que é que essa tal sorte reservara-me de fato: eu vou com outro e não com você.
Passamos por uns maus bocados também. Depois de abril, as coisas ficaram pesadas para o nosso lado. Havia muito que fazer, tivemos que correr como loucos para que nossos planos se concretizassem. Dividimos-nos entre dezenas de tarefas simultâneas, por causa dessa nossa vontade de fazer tudo em conjunto. Quase conseguimos, não é mesmo? Se hoje é preciso adiar nosso projeto por um breve período, não é nossa culpa, embora seja por causa dessa fatalidade que não poderemos permanecer juntos enquanto eu cruzo a linha. Dentro de alguns dias, você será passado e eu não olharei para trás, levando comigo somente as coisas boas.
Eu sinto muito orgulho de você. E sei que você também se orgulha de mim. Juntos, ascendemos ao topo do pódio. Mais de uma vez. Demos risada, pegamos a estrada, dançamos até que os joelhos doessem. Falamos sobre tudo enquanto tomamos alguns porres, embriagados de amor. Formamos uma grande dupla. Bom trabalho, meu querido. Bom trabalho.
Por favor, não pense que enfrento nossa separação sem dor nenhuma. Eu tenho sentimentos, como você sabe tão bem. Está doendo um pouco. É muito difícil abandonar quem me fez tamanhamente feliz, quem me mostrou como usar a força interior que eu sempre tive, mas que não utilizava de todo porque vinha guardando para quando precisasse. Você me ensinou que quanto mais a uso, mais forte me torno. Por isso, e por tantas outras coisas inesquecíveis, te amarei infinita e indefinidamente. Muito, muito obrigada por tudo.
Adeus, 2008. Foi incrivelmente bom, enquanto durou.

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