10 de fevereiro de 2010

o inverso

Deu no Terra: Happiness, uma nigeriana às voltas com os preparativos de seu casamento, incluiu em sua agenda um programão de dar inveja em qualquer um: passar seis meses freqüentando um spa, preparando-se para o enlace. Quem pode, deve cuidar de si - mente e corpo. Até aí, nada nos surpreenderia, não fosse o verdadeiro motivo que a levou a procurar serviço especializado. Relaxar? Emagrecer? Nada disso, engordar. E muito. Várias pessoas fazem isso, seja por recomendação médica, seja por senso estético. O curioso é que ela não está magra demais e, tendo a saúde em dia, está sobretudo contrariando seu médico: a despeito dos grandes riscos de sofrer um enfarto, prejudicar a circulação e tantos outros males, Happiness deseja tornar-se obesa.
O noivo, rico príncipe da tribo Efik, diz que não poderia desposar uma mulher que não fosse excepcionalmente pesada, pois isso colocaria seu poder e riqueza em dúvida ante seus famintos súditos; a obesidade de sua futura esposa consiste em prova irrefutável de que ele pode alimentar os seus. Em um país onde milhares morrem de inanição, estar excessivamente nutrido é símbolo de status.
Um embate entre aparência e saúde faz com que você perceba qualquer semelhança com alguma história conhecida? Pois não é mera coincidência. Não concordo que o bem-estar seja sacrificado por causa de um padrão estético, e qual é a diferença entre Happiness, a obesa princesa nigeriana, e as nossas leves, anoréxicas e lipadas princesinhas - a capa da Playboy, a apresentadora do programa infantil, a musa da novela das oito, a socialite? É manjado, mas está no out door, no telejornal, nas produções de Hollywood e da Disney também. A mensagem é clara: se quiser entrar para o clube das belas, amadas e desejadas, quanto mais magra, melhor. Aí mulheres que até então eram saudáveis, vão parar na mesa de cirurgia por que julgam ser necessário parecer-se com quem quer que esteja nas capas das revistas do mês. Perseguindo uma beleza que não é a nossa, prejudicamos nossa saúde e passamos fome por que desejamos a perfeição.
Na Nigéria, quem tem o que comer também modifica seus hábitos alimentares e se empanturra pelo mesmo motivo: sentir-se bonita.
Para nós, discípulas da Barbie, a cena é idílica: você já abriu o primeiro botão da calça jeans após o rodízio de pizza, quando sente remorso pela quantidade que comeu. Então, sob os protestos das amigas, que juram que você está ótima, avisa: ah, meninas, estou de dieta, vou ter que comer mais um pedaço, não tem jeito. Garçom, traz um chá de boldo para ajudar a descer, por favor.
Tenho algumas amigas que, por motivos errados, estão querendo morar na África.

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