10 de junho de 2008

wild horses


Já deve ter acontecido com você: sala de desembarque, retorno de uma viagem curta, talvez de um ou dois dias. Carrega apenas uma bolsa de viagem que não pesa mais do que cinco ou seis quilos. Daquelas que é possível levar como bagagem de mão, a bordo do avião. É leve, concorde. Um pouco cansada, olha em torno, à procura de seu cavaleiro solitário, que ficou de buscá-la no aeroporto. Cena 1: Nada. Você não está visualizando seu cavaleiro. Hum, tadinho, pode ser que ele tenha entendido errado o horário do vôo. Compreensiva, você liga o telefone celular e disca. Não, ele não entendeu errado: ele está dentro do carro, estacionado em fila dupla em frente à sala de desembarque. Para não precisar pagar pelo estacionamento, não foi capaz de descer do carro para esperá-la onde deveria. Claro que você acha isso a maior falta de consideração, mas releva, por que ele é homem e você sabe que não dá para exigir muita coisa da maioria deles. Dispensa o carrinho de bagagem – sua bolsa é leve! – e vai até onde ele está. Ele não desce, mas na esperança de passar por educado, se estica e abre a porta do carona para você. Suspirando por tamanho gesto de delicadeza, você ainda abre a porta traseira, deixa sua bolsa de viagem no banco de trás e, só então, entra no carro pela porta que o gentil-homem abriu para você. Ele te dá um beijo bem mais ou menos porque já vai se preocupando com o trânsito. Um verdadeiro cavaleiro de armadura reluzente. Cavalgando seu puro sangue. Cena 2: Lá está ele, que doce. Exatamente aonde deveria estar, na saída da sala de desembarque, esperando por você. Te dá um beijo cheio de saudade e todas ao redor morrem de inveja. Vamos? Vamos. E começam a andar em direção ao estacionamento, abraçados. Ele fica do lado direito para não se debater com as suas bolsas, que estão penduradas no seu ombro, do lado esquerdo. Depois de um minutinho, ele te pergunta “quer que eu leve a mala?”. Você, que não quer bancar a mulherzinha, fala docemente “imagina, não precisa” e ainda arremata: “está leve”. Era a deixa para que ele fizesse questão, mas ele não entende e fica por isso. Então, você carrega a bolsa. Chegando no carro, ele abre o porta-malas para que você coloque ela lá dentro. Cada um entra por sua porta e vão embora. Cavaleiro andante. Pelo menos, ele abriu o porta-malas, não é mesmo? Oh, céus. Antes que os rapazes fiquem furiosos ou confusos, explico: não se pergunta, simplesmente se retira o peso dos ombros femininos, naturalmente. Mesmo que seja apenas uma pequena sacola de compras contendo um batom. Não se tratando da inseparável bolsa pessoal, quem carrega qualquer coisa são vocês. Já emprestamos a nossa doçura a vocês, emprestem-nos a sua força, vai. Quem abre qualquer porta são vocês. Se está chovendo na saída do cinema, é lógico que vocês buscam o carro e voltam para nos resgatar. Por mais cosmopolita e independente que uma mulher seja, esteja certo de que ela gosta – e muito – de ser tratada com cuidado. Mais do que isso, ela espera atitudes protecionistas de você, seu australopithecus. Com essa novidade de as mulheres serem auto-suficientes, acabamos perdendo uma coisa muito boa que nossas avós puderam usufruir bastante: gentileza masculina. Galanteio mesmo. Eu mesma presenciei muito pouco, para não dizer nunca. Aliás, ando contabilizando boas intenções. Está bem, está bem, estou exagerando. Já vi sim: na novela das seis há cavalheiros. Assim, ó. Mas como nesse horário estamos todas trabalhando... fica raro, mesmo. Sim, vocês têm todo o direito de argumentar que a mulherada não anda nada fácil, que são metidas a fazer o trabalho de vocês, que tomam a iniciativa, que pagam a conta, trocam o botijão de gás e fazem com que vocês se sintam meio perdidos, sem saber que papel desempenhar. Na verdade, o que a gente faz é garantir que, na falta de vocês, rapazes, estaremos sãs e salvas. Queremos assegurar que ninguém poderá se meter conosco, caso não haja um homem que nos defenda por perto. Vamos chamar isso de medidas preventivas. Caso uma de nós venha a negar e dizer que nada disso é verdade, seja gentil e acredite, mas mostre como você enxerga a essência feminina dela e o quão doce ela é por baixo dessa carapuça. É tiro e queda. A gente enlouquece de alegria. Não, não estou dando receita de bolo para um relacionamento longo e feliz. Se essa for a sua vontade, siga adiante. Mas se não for, saiba que os maiores canalhas de que se tem notícia eram soberbamente cavalheiros - Don Juan, Casanova e toda essa trupe de ordinários que entraram para a história. A banda A.L.O. (formada por homens) diria girl, I wanna lay you down. Pode sim ser só por essa noite, desde que seja bom. Para os dois. A Luciana Mello responderia “Rolou um clima e ninguém falou de amor. Mas não me leve a mal se eu me apaixonar no final”. Experimente fingir que sua cama é um altar, onde ela foi posta para ser servida, protegida e adorada. Você vai descobrir a diferença que isso faz na disposição dela para fazer o que você quer. Mulher bem-servida é mulher servindo bem. A gente não adora, a gente ama cavalheirismo. E isso vale para as suas amigas também; pense que elas são excelentes propagandistas. Boca a boca é com a gente mesmo. Estou com medo de represálias das feministas mais ferrenhas, mas como elas são a minoria, me arriscarei em prol de um mundo melhor.

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