11 de julho de 2008

buraco negro

Eu não aceito qualquer um. E gosto de me enganar, pensando que você também não aceita. Não que precise ser o cara certo, até por que não tem que cumprir nenhum pré-requisito. Não sei explicar o que é que precisa, mas tem que dar aquela liga. Aquela, sabe? Talvez essa seja a única norma pré-estabelecida: tem que dar um arrepio. Você já deve ter sentido, é uma coisa totalmente sem explicação, que não há lista de qualidades que consiga dar conta.
Se eu fosse elencar predicados, a lista seria enorme. Prefiro os morenos. E teria que ser alto, por que tenho 1,74m e pode ser que eu resolva usar salto alto. Sorriso não menos que maravilhoso. Se ficarmos só na aparência, quero que se vista bem - e isso não tem nada a ver com moda, pelo amor de deus. Tem a ver com estilo, mas aí já saímos dos quesitos que são apenas aparentes. Saint Exupéry disse que o essencial é invisível aos olhos, e talvez por isso tenha vendido tantos milhões de livros. Sigamos sua filosofia, parafraseando Vinícius: que me desculpem os alienadinhos, mas inteligência é fundamental. Assim como disposição: pra vida, pra assistir ao Sol nascer, pros esportes, pro sexo, pra pegar uma estrada, pra dançar e pra fazer nada junto também. Claro, teria que ter bom gosto. Nada mais subjetivo que "bom gosto", por que isso é uma coisa que todo mundo acha que tem. Ou você acha que a Carla Perez sabe que as calças coladinhas com estampa de jornal que ela usa são cafonas? Não, né? Ela acha chiquérrimo e, ai de mim, quem somos nós para dizer que não é. Por isso, teria que ter bom-humor. Teria que saber achar graça de mim e de todas as bobagens que vêm inclusas no pacote, mas teria principalmente que saber rir de si mesmo. Quem se leva muito a sério, argh! Segundo as advertências do Ministério da Saúde, precisaria beber com moderação. Acredito que assim, poderá me avisar quando eu estiver exagerando no vinho e, cavalheiro, explicará ao taxista onde fica minha casa. Me instigue: faça rir, gozar, debater e viajar. Enfim, teria que dar conta do recado. Tudo nesta vida depende do quão imaginativos somos capazes de ser. Porque querer, meu bem, todo mundo quer: tem que ser assim, assim e assim. Mas aqui por essas bandas, que chamam de mundo real, a gente se apaixona por razões desconhecidas. Ele é louco pelo time de futebol que você e todas as últimas cinco gerações da sua família detestam. Toca violão, mas só os clássicos do Wando. E ela, então? Chata pra comer, separa a cebola fazendo cara de nojinho toda vez que vocês saem para jantar. Ou então ele é daqueles que não duram em emprego nenhum e fica furioso quando você sugere que ele apare as costeletas, alegando que não se rende às convenções. Só que ela coloca o cabelo para trás da orelha de um jeitinho que te hipnotiza. Mas acontece que, quando ele te beija, uma corrente elétrica passa através do seu corpo e faz o chão desaparecer. Tem dias que ele parece tão desprotegido que você tem vontade de colocá-lo no seu colo - e coloca mesmo, claro. Colo adentro. Ela tem um defeitinho que você não confessa: é meio cafajeste. Magnetismo light, daqueles que conquista até samambaia. E você até finge que não vê quando ela sai pulverizando charme aos quatro ventos, porque... porque... porque, mesmo? É. Não tem explicação. Abençoada insanidade. Renato Russo odeia química, mas eu adoro. Endorfina à parte, prefiro estar em minha própria companhia a estar mal-acompanhada. Nem mais ou menos acompanhada serve, os amigos mais ou menos também são um veneno para a saúde. Intuo que Einstein não formulou a Teoria da Relatividade tentando estabelecer conversação com uma mala-sem-alça-e-sem-rodinhas num boteco. Ou talvez sim, por que ele bem pode ter pensado, num suspiro, que "é, isso é muito relativo". Se no lugar de ficar acompanhada somente por seu alter-ego, você prefere sair com um cara que, além de falar "voltemo, falemo e melhoremo", usa o mesmo perfume que seu pai, é possível que você esteja com um sério problema, amiga. Suportar as futilidades de uma cover da Kelly Key só para não ter que encarar o Super Cine, idem, amigos. Evidente que às vezes a gente acaba levando gato por lebre e, quando se dá conta da roubada, já saiu de casa. Em situações mais graves, só percebemos na hora da sobremesa. Nesses casos, paciência. A única solução é colocar as lentes cor-de-rosa para tentar extrair algo de bom e evitar que a noite seja perdida. Ou fingir um ataque apoplético, para garantir que o cidadão não telefone nunca mais. A vovó já dizia que estar só é bem melhor que estar em má companhia. Repito isso dez, cem, mil vezes para ver se consigo me convencer de que estou fazendo a coisa certa. Como se o ar ao meu redor precisasse ser impregnado por essa disposição incomum em estar sozinha e em paz, especialmente nestes tempos em que quando seu celular estraga, parece que o que parou foi o seu coração. Como o sinal do microondas, que faz pí cinco vezes, para convencê-lo de que sim, a comida está pronta, pode vir pegar. Aliás, mudo de assunto por apenas duas linhas para dizer que acho que os aparelhos de microondas deveriam vir com opção de musiquinha, da mesma forma que os celulares. Concorde, tem algo mais irritante do que um pí? Tem sim: cinco pís. Mundo perfeito este, em que Caetano te chamaria para almoçar dizendo "traz meu café com suíta, eu tomo. Bota a sobremesa - eu como, eu como, eu como... você!" Mas voltando ao assunto, que delícia poder ficar na companhia da pessoa mais importante da sua vida: você. Abrir um bom vinho, aconchegar-se no sofá e aproveitar o sábado à noite mais produtivo do mês inteiro. Paz é a glória. E tudo isso foi para contar sobre uma teoria a respeito da origem dos buracos negros. Sim, por que tudo é muito bonito na teoria, e é claro que a gente não quer se sujeitar a qualquer companhia só pra dar uma (não, mesmo?), mas a verdade é que, num dado momento que só a sua resistência poderá dizer quando chegará, você percebe que, se não tomar uma atitude, começará a sugar tudo o que está a sua volta. Pí pí pí pí píííí!!!!!!

1 Comentário
Julia disse...

Amei!!!

Tomei a liberdade de colocar um link pra esse post no meu blog, o "Sonhos de Lulu", espero que não se importe :)

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