26 de outubro de 2008

controle


Domingo. Chove há mais de uma semana e não há nada para se fazer. Em frente ao computador, a esperança de escrever um bom texto, mas as boas idéias também estão descansando neste dia santo. Nenhum e-mail novo para responder. Apreensão com o que possa estar passando na televisão. Melhor não arriscar. Solução: assistir a alguns DVDs.

O clima hostil da Serra Gaúcha dá muita preguiça. Ânimo, garota. Na locadora, meia dúzia de perdidos que também não sabem o que fazer consigo mesmos no dia de hoje. O filme procurado não está disponível, uma vez que ontem à noite todos os casais da cidade resolveram aproveitar a noite de chuva para alugar todos os lançamentos. Pensamento consolador: pelo menos, ontem à noite havia o que fazer e filmes não eram necessários. Não, mas hoje são. Humor. É disso que um domingo de chuva precisa.
Pijama quentinho, luz apagada e... onde está o controle remoto? O quarto não é tão grande, mas a bagunça é king size. Bagunça, não: caos criativo. Embaixo da cama, não está. Dentro da gaveta, não está. Nem no armário, no criado-mudo, na caixa de sapatos.
O aparelho de DVD não funciona sem o controle remoto, inútil insistir. Impossível escolher idioma, configurar legendas ou mesmo selecionar um episódio. Sem ele, o aparelho não serve para nada. O cara que projetou esse aparelho, presume-se, estudou a vida inteira para construir algo que prestasse mas esqueceu de instalar botões de emergência. E se as pilhas terminarem? E se a droga do controle se perder? (Na verdade, ele não está perdido, apenas tem seu paradeiro ignorado.) E se for domingo, o que é que se faz, meu deus?
Não controlamos nada. Em pleno mês de setembro - quando deveria ser primavera – a temperatura está baixa, a umidade está alta e o céu está cinza. Das flores e passarinhos, não se tem notícia. Políticos seguem na boa vida com nosso dinheiro. Homens não sabem mentir direito, nos obrigando ou a fingir que somos burras, ou a ter um ataque. A cada 28 dias, mulheres passam por mudanças hormonais que as deixam doidas. Malucas, piradas, inchadas e insuportáveis. Odiamos TPM. Nosso ar é poluído e nossa água é imprópria para banho. Nossa comida ou tem agrotóxico, ou tem gordura trans. O dólar está alto, nossos perfumes ficaram mais caros e a Amazônia está cheia de americanos - temos índios que falam inglês fluente, veja bem. O cavalheirismo morreu: ninguém abre portas ou carrega sacolas para a gente, meninas. Temos que ser inteligentes, engraçadas, bem-sucedidas. E organizadas, porque se perdermos alguma coisa, lá se vai nosso domingo. Minha avó que era feliz, não precisava de controle remoto. São Longuinho, São Longuinho: se achar o que procuro, dou três pulinhos. Respira, respira.
Por favor, me desculpem por isso. Eu perdi o controle.

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